Saúde e bem-estar
Alimentação e Cultura: balancear é a solução
Natália Oliveira
“Alimentação cursa com cultura, prazer, satisfação e socialização” é o que afirma Andrea Abdala Frank, professora e doutoranda de nutrição da UFRJ. Os cariocas têm a cultura do bar, de sair à noite para comer um bom petisco, tomando uma cerveja gelada e “jogando conversa fora”. Esse hábito não é condenado pelos nutricionistas, ao contrário do que muitos pensam.
Os especialistas acreditam é que a frequência com que a pessoa se alimenta de petiscos é determinante para garantir, ou não, um estado de saúde nutricional satisfatório. “Se o indivíduo frequenta o boteco de segunda a segunda e, com isso, costuma ingerir diariamente preparações puxadas na gordura e no sal, ou feitas à base de alimentos de origem animal, carregados de gordura saturada, e de frituras, uma pequena porção de 300 gramas pode se tornar uma grande quantidade para o organismo”, reforça Andrea. Desta forma, esse comportamento não é adequado para quem pretende melhorar a sua saúde com base no perfil alimentar.
As frituras não são ideais, pois dobram a quantidade de gordura saturada presente no alimento. Essa gordura precipita a formação de tecido adiposo e, no sangue, pode causar deficiências cardíacas e obstruções de artérias, devido ao seu caráter sólido. É encontrada em alimentos de origem animal, mas mesmo os de origem vegetal, quando fritos, têm a gordura insaturada transformada em saturada. É o caso do azeite, que é ótimo para a saúde quando adicionado aos alimentos, porém, se aquecido, perde o potencial nutritivo e se transforma em gordura saturada.
“O mal que a fritura vai fazer ao organismo vai depender do que é frito e como o alimento chega à frigideira”, afirma Andrea. Tomando como exemplo o bife, a professora conta que a carne por si só já tem gordura saturada, e quando frita essa quantidade aumenta. Já o bife à milanesa, além da gordura proveniente da própria carne e da fritura, leva farinha, composta por carboidratos. O alimento empanado funciona, então, como uma esponja e puxa mais gordura para si. “Gordura em excesso é ruim, assim como tudo em excesso é ruim”, constata. Quando não utilizada, é armazenada na forma de tecido adiposo, causando a obesidade, que traz outros problemas de saúde agregados, como deficiências respiratórias, depressão, problemas ortopédicos e cardíacos.
Petiscos
A dica para quem vai comer petiscos é considerar onde comer e o que escolher para comer. “Quando não se conhece o lugar onde se está comendo, não se sabe a qualidade da gordura que está sendo usada ou se ela está sendo reutilizada.” Por isso, a pessoa deve optar por um lugar que já conheça ou que lhe foi indicado. Quando não for possível, devem-se observar a limpeza e a frequência, além de pedir o petisco que mais sai, pois a chance de ser mais fresco é maior. Por que essa preocupação? A reutilização do óleo agrava os efeitos da fritura no organismo.
Os embutidos como queijos, presuntos, salsicha e linguiça também são muito pedidos como os famosos “belisquetes”. Esses também possuem uma grande quantidade de gordura saturada, além de receberem aditivos de nitritos e nitratos quando tratados pelas indústrias. Tais compostos podem ser considerados os principais causadores de câncer de intestino. O mesmo que ocorre com as frituras acontece com os embutidos. Existe uma diferença de qualidade entre eles, por exemplo: a carne bovina é mais densa que a do frango, o peito de peru tem uma gordura mais suave que a do presunto, o queijo amarelo retém mais gordura que o branco.
Apesar disso, nada impede o consumo desses alimentos de forma moderada. O problema, segundo a professora, é que o conceito de moderação é relativo, e por isso a dica é balancear. “Se você vai comer um alimento desse tipo à noite, deve balancear sua alimentação durante o dia para compensar o que você vai consumir depois.” Essa atitude traz benefícios para a saúde do indivíduo sem causar frustração. Entretanto, a entrevistada ressalta que a orientação é válida para aquelas pessoas que não sofrem de nenhuma doença crônica ou contratempo fisiológico, como alterações nos perfis de gordura e de açúcar, além da obesidade, que as impeça de ingerir certas preparações por determinado período.
Outra dica dada por Andrea é distribuir melhor o tempo com relação à alimentação. Segundo ela, “a pessoa pode primeiro pedir um caldo leve, enquanto conversa, sociabiliza. Pode também mesclar uma tulipa de chopp,ou um copo de cerveja, com um copo de água mineral aromatizada ou mesmo um copo de suco”. Com isso, quando for comer o petisco já não vai estar com tanta fome e irá se satisfizer mais rapidamente. No início pode parecer estranho, mas excluir ou incluir algo na sua alimentação é apenas questão de costume.
Todas essas orientações são adquiridas em uma consulta ao nutricionista, que é um educador. Só ele vai poder indicar os hábitos para se levar uma vida saudável. Por isso, não deveria ser procurado apenas quando indicado por outro médico ou em casos de extremas complicações. Nesses últimos, torna-se muito mais difícil uma reversão de quadro, já que alimentação é uma questão de hábito.
Nutricionistas não fazem milagres
"A saúde alimentar implica a conscientização, que se dá através da informação proveniente da educação. O nutricionista ajuda a pessoa a comer bem, viver bem, e indica os caminhos que devem ser seguidos para adiar o aparecimento de doenças crônicas”, analisa a professora.
Percebe-se que, além da alimentação, o estilo de vida interfere diretamente na saúde. Tomemos como exemplo o campo e a cidade. Na zona rural, muitos alimentos são feitos na “banha”, gordura de origem animal, considerada muito prejudicial à saúde. Porém, é difícil ter um morador do campo com problemas relacionados à ingestão de gordura. Isso se deve ao dia a dia. Na cidade, a luta contra o tempo estimula o consumo de fast-food, além de o estresse, o sedentarismo (tevê, videogame) e as preocupações aumentarem o potencial “destrutivo” dos alimentos no organismo.
Quando perguntada sobre qual geração sofre mais com os efeitos de uma alimentação desregulada, a nutricionista afirmou que “tudo é uma questão de hábito, de educação”, mas traçou um panorama dos efeitos da alimentação em cada geração: “As meninas têm um período maior de problemas relacionados à alimentação, começando na fase escolar e se estendendo pela adolescência. Isso se deve à fase hormonal complicada. Já os meninos, por serem mais agitados, gastam mais energia e têm um período menor de fase crítica. Os adultos, entre 40 e 50 anos, são os mais resistentes às orientações, pois acreditam que são muito novos para terem restrições alimentares e que já viveram muito, e bem, comendo o que comem. Já o idoso começa a ver as doenças mais de perto e, por isso, busca se cuidar mais, dando menos trabalho”.
Andrea Abdala escreveu o livro Nutrição no Envelhecer, da editora Atheneu, que teve sua segunda edição publicada recentemente. Tendo como linha de pesquisa a chamada de “melhor idade”, Andrea afirma que tudo na vida é um somatório e que, “se você come pipoca com sal e manteiga todos os dias desde os 15 anos, aos 60 não pode dizer que está em um momento ruim”. Segundo ela, a pessoa que consome muitos alimentos à base de gordura abre mão das frutas e das hortaliças, que possuem as vitaminas e os minerais responsáveis pelo caráter saudável das células do organismo.