Em Pauta
Problemas estruturais nos aeroportos brasileiros
Vivianne Tufani
Com a aproximação de grandes eventos como “Jornada Mundial da Juventude”, “Copa do Mundo” e “Olimpíadas”, a dúvida que fica é se os nossos aeroportos estão preparados para receber a grande demanda de turistas que virá para o país. Mesmo com o número de passageiros no Brasil crescendo a cada ano, os aeroportos continuam defasados, e ainda há muito para melhorar.
Segundo o professor Respício Espírito Santo, do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da UFRJ, e especialista no assunto, há muito tempo se tem um problema estrutural nos aeroportos. "Isso é resultado dos sucessivos governos que acabaram deixando a aviação de lado”. Para ele, essas dificuldades são responsabilidade nossa, como um dever de casa, que não pode ser transferido para ninguém.
Outra questão em evidência é o atraso nos aeroportos brasileiros em relação aos mundiais. "Em quesitos importantes como conforto, tecnologia, arquitetura e atendimento ao cliente e às empresas aéreas, nós estamos anos luz atrás", declara Respício.
Segundo o professor, se formos avaliar corretamente, veremos que apenas 10% da população brasileira viaja de avião, por ano. Nos EUA, que possui o mercado de aviação mais maduro do mundo, esse número sobe para 80%. “Se chegássemos a 50% da população brasileira voando, por ano, seria fenomenal. Mas se isso acontecesse do dia para a noite, os aeroportos falhariam”, explica.
Aeroportos privados e concorrência
Respício diz que a concorrência é um fator importante, e melhoraria muito o serviço de transporte aéreo no país. “É absolutamente vital para a aviação como um todo, não só para nós passageiros, mas para todas as empresas aéreas, que haja concorrência”.
Para isso, ele explica que cada aeroporto deveria ter uma administração diferente. É o que ocorre na Europa, onde os aeroportos de Paris, Madri, Frankfurt e Londres concorrem entre si.
Entre os grandes aeroportos brasileiros, quatro foram concessionados. Três são operacionais – Guarulhos, Viracopos e Brasília - e um ainda está em construção - Natal. A concessão dos aeroportos, feita em fevereiro de 2012, afeta de forma positiva a aviação brasileira, pois com as empresas responsáveis investindo em melhorias e infraestrutura, os outros aeroportos administrados pela Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) acabam sendo impelidos a mudar também, e isso gera uma concorrência, que é saudável e muito boa para os clientes.
A iniciativa privada é importante para que se tenha uma visão de negócios em relação à aviação brasileira. É preciso melhorar o que nós já temos, a começar pelas pessoas que trabalham nos aeroportos. Elas precisam de uma injeção de ânimo e visão empreendedora, ou então, vão ficar em desvantagem. “Se um aeroporto a 200 km possui uma equipe muito boa, que está olhando tudo como um negócio, cedo ou tarde, ela vai mexer com a outra equipe que não tem essa visão, e que vai ser obrigada a mudar de atitude. Isso é concorrência”, diz o professor.
Atendimento aos clientes
Para Respício, a ideia de tratar os passageiros como usuários não existe. “Assim como você vai a um shopping, ou a uma empresa privada qualquer, você é um cliente. E é assim que devemos ser tratados pelas empresas aéreas e pelos aeroportos, como consumidores”.
O professor diz que o problema do país é cultural, e que nós não temos o hábito de reclamar. Segundo ele, os brasileiros precisam aprender a cobrar dos responsáveis pela melhoria nos serviços.
O interior dos aeroportos também deve ser levado em consideração, e muitas mudanças precisam ser feitas. No aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, por exemplo, o acesso ao setor de conveniência, onde ficam os quiosques e restaurantes, é difícil. “O passageiro circula no setor de embarque e desembarque, mas não tem área comercial lá. Ela fica no andar de baixo, mas para trocar de piso eu preciso ter tempo e estar disposto a andar de cima para baixo”, diz Respício.
Com as concessões, cabe à iniciativa privada o papel de repensar o interior dos terminais. “Não estou considerando a criação um terminal novo, que é rápido, relativamente barato e o layout é fácil de fazer. O difícil é mudar o que já existe”.
O problema dos transportes
O entorno dos aeroportos também é um fator preocupante. Com a chegada de muitos turistas no Brasil, é preciso que eles tenham facilidade na hora de se locomover. Na opinião do professor, o grande problema é a ideia das administradoras de que os aeroportos começam da calçada para dentro. “O aeroporto não começa no meio fio do terminal. Ele começa muito antes, dentro de casa, no planejamento da viagem”.
Nos aeroportos brasileiros, o meio mais fácil de chegar e sair é de carro ou táxi. Outro problema para os turistas é que os hotéis não oferecem nenhum tipo de transporte. ”Eles ficam perdidos, porque isso é comum lá fora. Quando eles chegam, já tem uma van do hotel esperando para buscá-los no aeroporto”, diz. Para o professor, é possível que se tenha outras alternativas de transporte, basta que o aeroporto pressione a prefeitura.
Copa do Mundo
A grande preocupação em relação à Copa é com os pátios de aeronaves. Para Respício, se levarmos em consideração os voos internacionais, os fretamentos domésticos e o próprio fluxo de voos regulares, não há pátios.
Para que tudo funcione corretamente, a Infraero e os novos concessionários precisam fazer um megaplanejamento de ocupação. “Precisamos pegar as posições que não estão mais nos pátios, mas nas pistas de táxis, e disponibilizar para os jatos executivos. Isso acontece em todos os países que recebem esses eventos de grande porte. A Alemanha e os Estados Unidos também fizeram assim”.
Quanto ao número de passageiros, o professor é otimista e diz que isso não é um problema para o Brasil: “Os terminais estão adequados para o número de passageiros, isso não me preocupa”.
A grande diferença é que, na Copa, os passageiros entram e saem de um dia para o outro nos aeroportos, coisa que não acontece em nenhuma outra época. Por isso, será necessário um atendimento adequado da Polícia Federal, além da preocupação com o conforto dos terminais.
O professor explica ainda que as medidas tomadas por causa da Copa não devem ser provisórias: “A parte dos pátios muda só por causa do evento, mas a qualidade dos terminais não”. Para ele, os aeroportos não têm que ficar confortáveis, bonitos e eficientes apenas para a Copa, mas sim para os brasileiros no dia a dia: “Os grandes eventos podem servir de motivação, mas não de justificativa”.