Urbanização e sustentabilidade
Fracasso das conferências internacionais e aquecimento global
Guilherme Karakida
O Mauna Loa, um dos observatórios espalhados ao redor do mundo para monitorar a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, revelou, neste mês, que esse gás ultrapassou 400 partes por milhão (ppm) pela primeira vez na história. Esse dado expõe o fracasso das organizações internacionais que lutam, por meio de conferências como a Rio+20, para criar metas com o objetivo de reduzir a emissão de gases poluentes que contribuem para a intensificação do efeito estufa.
Flávia Beatriz Carloni, doutora em planejamento energético e ambiental pela Coppe e uma das idealizadoras do Programa de Desenvolvimento de Baixo Carbono da Cidade do Rio de Janeiro (PDBC Rio), esclarece por que os tratados não avançam ou são desrespeitados, na maioria das vezes, pelos países que participam desses eventos. “Boa parte dos países que participam dessas conferências tem a sua cadeia energética dependente da utilização de combustíveis fósseis. Assim, o problema não se resume apenas ao meio ambiente, mas depende de questões diplomáticas, políticas e do lobby das grandes corporações, o que atrapalha o cumprimento das metas”, afirma.
Assunto que divide pesquisadores, cientistas e professores em todo o mundo, o aquecimento global é uma realidade para Carloni. “O aquecimento global não é uma hipótese, e sim um fenômeno natural que começou a ocorrer desde a formação da atmosfera ao redor da Terra e sem o qual não existiria vida no planeta. A ação antrópica só acentuou esse processo”, observa. Contudo, a pesquisadora ressalta que ambas as vertentes apresentam profissionais sérios e renomados, e que esse é o lado magnífico da ciência.
Em relação às políticas do Brasil ligadas à sustentabilidade, a doutora menciona exemplos de ações sendo tomadas em todos os níveis de governo. “No âmbito federal, a atuação do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) vem se destacando, pois promove reuniões frequentes, com participação dos mais diversos setores da sociedade.” Além disso, ela cita a Bolsa Floresta, iniciativa do estado do Amazonas que paga uma bolsa para que as famílias possam sobreviver sem destruir a floresta, entre outras medidas. Carloni, porém, encontra dificuldades para analisar tais iniciativas: “Pelo fato de serem recentes, torna-se inviável afirmar o sucesso dessas iniciativas, mas é indiscutível que elas estão sendo postas em prática”, explica.
Por outro lado, a pesquisadora não esconde críticas a algumas organizações não governamentais que fomentam estudos tendenciosos para proporcionar pânico na sociedade. Com essa postura, segundo ela, conseguem patrocínios de instituições e de empresas que realizam o chamado “greenwashing”, propaganda vendendo a imagem de que são verdes para conquistar a opinião pública. “Apesar de certas organizações não governamentais não se encaixarem nesse quadro, muitas delas, infelizmente, utilizam essa estratégia”, comenta.
Diante da descoberta do pré-sal no Brasil, da exploração do gás de xisto nos Estados Unidos e do óleo de areias betuminosas no Canadá, a doutora opina sobre a possibilidade de uma revolução energética, ou seja, de uma redução gradual do uso de combustíveis fósseis. “Tudo é uma questão de preço. Se os combustíveis fósseis se tornarem mais caros e escassos, consecutivamente o mundo vai optar por usar energias mais limpas. O problema é como criar e estimular esse mecanismo de mudança de preços”, finaliza.