UFRJ Plural - Universidade Federal do Rio de Janeiro

Pesquisa

Pesquisa tenta recriar o processo das enzimas do sistema digestivo das baratas para a obtenção de etanol
Guilherme Karakida

Com o objetivo de obter etanol, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estuda enzimas do sistema digestivo da barata.

O professor Ednildo de Alcântara de Machado, do Instituto de Biofísica da UFRJ, um dos responsáveis por esse projeto, esclarece o motivo da pesquisa. Segundo ele, o mundo todo vivencia o problema de queimar o bagaço da cana - o resto da cana-de-açúcar após o processo de produção de etanol de primeira geração. Isso, embora produza uma quantidade considerável de energia para as indústrias, não se justifica, pois o bagaço apresenta altas quantidades de açúcar que poderiam ser reaproveitadas para gerar mais etanol. "Você pega um produto de alto valor agregado, com altas concentrações de açúcar e, simplesmente, taca fogo", afirma.

Para conseguir reutilizá-lo, as indústrias precisariam quebrar o bagaço e dali extrair açúcar, que seria dado para as leveduras - fungos que são responsáveis pela produção de etanol por meio da fermentação dos açúcares. O problema reside justamente em como quebrar essa palha. Machado aponta as dificuldades. "Hoje, essa palha tem vários problemas para ser quebrada. Há as opções de fazer isso tanto química como fisicamente. Quimicamente, você tem as opções de tratamentos químicos com álcoois e ácidos fortes. Porém, esse tratamento químico proporciona um dano ambiental. Se você optar por fornecer calor, a fibra também pode ser desenovelada. No entanto, você tem que usar tanto calor para quebrar a fibra, que o que ela gera de etanol não compensa economicamente", explica o pesquisador.

A solução, então, seria o estudo do sistema digestivo de insetos e fungos que conseguem realizar esse processo, para tentar recriá-lo em laboratório e, posteriormente, em larga escala nas indústrias. Dentre os insetos que apresentam este recurso, estão os cupins e as baratas. A preferência de trabalhar com estas, de acordo com o pesquisador, se deve à sua alta capacidade de adaptação e da facilidade criação em laboratório. Dois tipos de baratas estão sendo analisadas pelos pesquisadores: a Periplaneta Americana, espécie comum e encontrada em esgotos e escondidas nas casas; e a Nauphoeta cinerea, um tipo de barata da América Central. O cientista ainda ressalta a semelhança entre os cupins e as baratas, do ponto de vista bioquímico, exemplificando que certas espécies de baratas conseguem comer madeira.

O projeto, atualmente, conta com a parceria da Petrobras, do Inmetro, da UFRJ e do Centro Tecnológico de São Paulo, além do financiamento do Governo Estadual. Apesar dos avanços obtidos na pesquisa, que foi iniciada em 2008, o cientista destaca a falta de investimento do Governo Federal e de profissionais especializados na área. "Hoje, eu acho que poderia ter mais quatro pessoas no projeto", afirma. "Nós precisamos quintuplicar os esforços nesse projeto".

Os resultados da pesquisa não se limitam apenas ao crescimento da produção de etanol, Machado afirma que a manipulação dessas enzimas poderá beneficiar outras áreas, como as indústrias de frango, com o aumento de peso desses animais, e até a própria população, com a melhoria da conservação das roupas de algodão.