Em Pauta
Internação compulsória de usuários de crack no Rio
Carla Basílio
Ilustração: Caio Monteiro
A proposta de internação compulsória de adultos viciados em crack, sugerida pelo prefeito Eduardo Paes, divide opiniões. Na quinta-feira, dia 25 de outubro, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou que o governo federal irá prestar apoio financeiro à prefeitura do Rio de Janeiro para a ampliação da rede de atendimento a usuários da droga.
O prefeito da cidade pediu apoio para a criação de uma rede que vai possibilitar a obrigatoriedade de internação de adultos viciados em drogas em geral, porém com foco no crack. Para tanto, a prefeitura anunciou na segunda-feira (22/10) a criação de 600 vagas para o tratamento de dependentes.
Há quem questione se a medida é legal, se é eficiente para livrar um dependente do vício ou mesmo se não é apenas uma medida do governo municipal para "limpar" a cidade. A Agência UFRJ de Notícias entrou em contato com a professora e doutora Magda Vaissman, do Instituto de Psiquiatria (Ipub - UFRJ), para que opinasse sobre a medida.
Segundo ela, trata-se de uma questão polêmica e possui dois lados opostos. "O crack é uma droga extremamente forte e pesada. Quando o sujeito está sob seu efeito, fica em conflito de mobilidade, tendo a capacidade de juízo da realidade muito prejudicada", afirmou. "Desta forma, é difícil que o usuário consiga tomar decisões acertadas, já que sua capacidade cognitiva praticamente se anula", completou.
Por outro lado, o tratamento obrigatório pode não ser a melhor opção. "Para que o tratamento dê certo, é preciso vontade do dependente. Além disso, não basta prender o usuário em uma casa de tratamento, como se ele tivesse cometido um crime, se o mesmo não for feito por profissionais qualificados. A equipe tem que ser muito boa para oferecer apoio clínico e psicológico", explicou.
De acordo com a professora, uma medida mais eficiente seria criar consultórios de rua, nos quais a equipe vai até o usuário. "Os profissionais ensinariam os dependentes a não compartilhar os recipientes e a trocar a droga por outras mais leves, até que seja possível não utilizar mais nenhuma", disse. "O trabalho seria feito de gente pra gente, sem coerção, gerando uma relação de confiança entre as forças do Estado e os dependentes", completou.
Ainda sobre a medida da prefeitura, a docente disse que é muito conveniente ao Estado tomar essa decisão. "Estão tampando o sol com a peneira", afirmou. "De qualquer forma, algo tem que ser feito, já que um terço dos usuários morre e grande parte não vive mais que poucos anos desde que começa a usar. Sem falar dos crimes, gravidez de risco e sequelas ocasionados pelo uso da droga."
Finalizando a entrevista, Magda disse que é possível, sim, vencer o vício. "Ratificando o que foi dito, é necessário que o usuário tenha vontade de sair da situação em que se encontra. Antes de internar uma pessoa, seria interessante fazer um trabalho de consciência do indivíduo, tentando trazê-lo para a realidade", finalizou.