Pesquisa

Bomba teleguiada no combate à esquistossomose

Guilherme Karakida

Com uma área de 740 metros quadrados e um conjunto de seis laboratórios com modernos equipamentos, a Planta de Polímeros, inaugurada em outubro do ano passado pela Coppe, pretende produzir materiais plásticos com aplicações biomédicas e farmacêuticas. Orçado em cerca de R$ 11milhões, o projeto pioneiro no país é custeado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e principalmente pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).

Encapsulamento do praziquantel
Segundo o professor José Carlos Pinto, coordenador do Laboratório de Engenharia de Polimerização da Coppe, a pesquisa que mais justifica o investimento é o encapsulamento do praziquantel, medicamento utilizado no combate à esquistossomose. Essa doença, uma das mais negligenciadas, atinge 200 milhões de pessoas no mundo e em torno de 8 milhões de brasileiros, a maioria crianças e pessoas de baixa renda.

De acordo com Carlos Pinto, o tratamento da esquistossomose é dificultado não só por causa do tamanho dos comprimidos de praziquantel, mas também em função do seu sabor amargo. Para solucionar esses problemas, o princípio ativo do medicamento seria encapsulado na forma de bolinhas de plástico, do tamanho de nanopartículas, o que melhoraria o tratamento em crianças. "A bolinha evitaria o contato do medicamento com a língua. Com isso, a criança não sente o gosto, o que facilita o tratamento pediátrico", afirma.

O professor ressalta também a necessidade de a bolinha ser "nano" e comenta como funciona o seu mecanismo de ação. "A bolinha precisa ser nano mesmo, uma vez que circulará nos capilares. Ela é como se fosse uma bomba teleguiada, porque carrega dentro de si um material que irá provocar a morte do Schistosoma mansoni", explica.

Em relação ao estágio em que se encontra a pesquisa, o cientista revela que atualmente a equipe está buscando produzir o medicamento em escala maior na planta-piloto, o que é chamado de escalonamento do processo, previsto para ser concluído ao longo de 2013. Porém, o teste em seres humanos, que confirmará a eficácia do material, tem previsão de ser realizado em 2014, e a comercialização em 2015.

Preço do produto
De acordo com o pesquisador, o preço do produto poderá ser acessível à população mais pobre, uma vez que a finalidade desse projeto, segundo o professor, é o benefício público. "Essas tecnologias não são muito caras. Você paga o conhecimento, e não o material. Em outras palavras, o preço do produto pode ser barato, desde que produzido por órgãos do governo ou empresas que estejam comprometidas com a saúde da população", observa.

Câncer
Além disso, a Planta de Polímeros desenvolve outras pesquisas importantes na área de saúde, que também envolvem o encapsulamento de diferentes princípios ativos, como a embolização. Essa técnica, caso bem-sucedida e aplicada, será um avanço no tratamento de tumores. "A embolização consiste no entupimento proposital, por meio das bolinhas, dos vasos sanguíneos que alimentam os tumores ou tecidos doentes. Com isso, você mata o tecido doente de fome. A bolinha ainda pode carregar princípios ativos no seu conteúdo, como medicamentos, que auxiliam no tratamento da doença", afirma.